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sexta-feira, 13 junho, 2025 - 16:01 PM

“SEDE SÓBRIOS E VIGILANTES!” (I Pd 5, 8)

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Uma das características marcantes do nosso tempo é o excesso. Excesso no comer, no divertir-se, no trabalhar, no falar, no barulho, no entretenimento, na internet, no esporte. O que vai na contramão do que nos recomenda a Palavra de Deus: “Sede sóbrios e vigilantes!” (IPd 5, 8). Esta ausência de sobriedade vem gerando um estado de vida marcado por um frenesi contínuo, ao ponto que não sobrar tempo para se pensar e se dedicar às coisas essenciais e importantes na vida: a fé, o apostolado, a comunidade, a família, a oração, a contemplação, o silêncio, o devido descanso. Além de conduzir as pessoas a uma vida dominada pelos vícios.

Não é por acaso que estamos vivendo num mundo de gente cansada, desiludida, em muitos casos consequência de uma mente que não para nunca, que está sempre ocupada, conectada, que está sempre a à espera de uma novidade, uma nova aventura, um zap, o campeonato, uma notícia…Mas no fim, o cansaço, um cansaço que vai muito além do físico é um cansaço que atinge a alma. Justo porque no meio de tantas demandas e ocupações falta tempo para dedicar-se a ela com qualidade. Falta tempo para dedicar-se a oração, à formação religiosa, à formação humana, ao estudo, ao convívio familiar, ao encontro com as pessoas, à meditação da Palavra de Deus.

Mesmo quando há a dedicação de algum tempo a estas atividades, elas tem que disputar a atenção, com o celular que ocupa a atenção das pessoas quase vinte quatro horas por dia. Até mesmo na missa, quando estamos conversando com alguma pessoa, já não se presta mais atenção em ninguém e em nada. Pois o importante não são os encontros reais, mas a conexão com o que está longe.

Fomos criados para descansar em Cristo, para viver em comunhão com Ele e com os outros. Não é por acaso que Ele nos convida: “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e eu vos darei descanso” (Mt 11, 28). Podemos descansar realmente na medida em que entramos na comunhão com Cristo, sobretudo na Eucaristia. Não é por acaso que o Domingo, dia do Senhor, é dia também do descanso, porque é o dia da Eucaristia. Embora para muitos esteja reduzido ao dia do esporte ou da hibernação digital.

Não que o esporte seja algo ruim, muito pelo contrário é até necessário para se conservar em bom estado a saúde. O problema é quando ele se torna o único e principal centro da vida. Ao ponto de desviar o sujeito do devido empenho e comprometimento com sua fé, com a comunidade, com seus deveres religiosos e familiares. Por exemplo, quantas pessoas que há muito tempo abandonaram a prática religiosa, a missa dominical, a oração diária, a confissão, mas que não ficam um dia sequer sem sua academia, sem seu pedal, sem seu zap, sem seu futebol.

Tais ocupações tomaram uma proporção tal em suas vidas que é como se fosse a sua religião, que impõe um ritmo semanal, jejuns e exercícios severos, atenção, tempo, dedicação. Mas não podemos nos esquecer que o homem é composto de corpo e alma, portanto, não basta cuidar do corpo, se por outro lado, não se tem o cuidado de alimentar a alma com a graça de Deus vinda a nós nos sacramentos.

Já nos idos de 1929, quando começou a se propagar no mundo ocidental, este domínio da vida esportiva, sobre a vida religiosa e familiar, o Papa Pio XI, como pastor vigilante, dirigiu aos pregadores quaresmais de Roma o seguinte alerta:

 

Em segundo lugar, procurem promover, defender o cumprimento dos deveres religiosos, paroquiais, quero dizer todo o magnífico conjunto que é a vida paroquial, a frequência, a assiduidade, a diligência – ao menos na medida indispensável – a instrução religiosa, todas coisas verdadeiramente ameaçadas ou, pior, já mais ou menos danificadas pelo excesso daquele movimento que, com a palavra não italiana, se chama ‘sport’. Excessos que tornam não educativo, nem higiênico, enquanto põem um obstáculo, não digo somente ao prosperar, mas também ao mais necessário viver e desenvolver de outras atividades humanas essenciais[1].

Aqui vale ressaltar que esta advertência do Santo Padre foi feita num momento no qual as práticas esportivas não tinham ainda alcançado dimensões econômicas e ideológicas tão vastas como em nosso tempo. Basta pensar por exemplo a cifras astronômicas com as quais famosos jogadores de futebol são vendidos e comprados, um verdadeiro insulto aos pobres. Ou ainda, toda instrumentalização da copa do mundo deste ano de 2022 em vista de difundir a ideologia de gênero, ou mesmo impô-la àquelas nações que não se permitiram ainda dominar por este grave delírio.

 

[1] G. CONCENTTI, La predicazione nel magistero pontificio, Vita e Pensiero: Roma, 1966, p. 328.

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